sábado, 24 de janeiro de 2015

AMAZÔNIA E O CLIMA


AMAZÔNIA E O CLIMA.
O desabastecimento dos reservatórios de água no sudeste, nesses meses de verão acendeu a discussão sobre o clima, com alguns palpites totalmente fora do contexto científico. Para entender melhor o problema é preciso recorrer aos eventos da nossa história geológica e dizer que o clima se estabilizou por volta de 11 a 12 mil anos (Holoceno) permitindo, na Amazônia, a expansão das ilhas de alta biodiversidade (Teoria dos Refúgios) dando origem ao atual cenário florestal. Nesse período, entretanto, houve uma forte crise climática, (entre 5 e 6 mil anos atrás) decorrente do derretimento de geleiras, que elevou o nível do mar, represou o Amazonas e originou as várzeas atuais onde uma riquíssima biodiversidade é indissociável da manutenção do equilíbrio ecológico dos rios de água branca.

A INFLUÊNCIA HUMANA.
A Revolução Industrial iniciada no final dos anos de 1800 provocou grandes transformações nas características do planeta o que levou Paul Crutzen, Premio Nobel de Química de 1955, a sugerir o surgimento de uma nova era - Antropocena - (pós Holoceno) assentando sua teoria no fato das atividades humanas terem se tornado a principal força por trás das grandes mudanças na topografia e no clima do planeta.
Na Amazônia, as alterações humanas só vieram quase 100 anos depois da Revolução Industrial, quando a ditadura militar (1964) com a justificativa de manter a soberania sobre o território, optou por ocupar a região pela via da migração, usando inclusive um “slogan” que dizia “homens sem terra para terra sem homens”. Essa opção é o marco inicial da destruição da floresta e da biodiversidade que, juntas e sob o primado da energia solar, constituem o alicerce do clima regional.

O CLIMA NA AMAZÔNIA.
Um fator determinante do clima, portanto, é a radiação solar incidente que, em média, chega a 400 calorias por centímetro quadrado, por dia, das quais 73% são utilizadas na produção de vapor d’água através da evapotranspiração das florestas e da evaporação dos espelhos de água, 25-26% utilizadas para o aquecimento do ar e apenas 1–2 % para formação de matéria orgânica nova, através da fotossíntese.

O CICLO DA ÁGUA.
A precipitação pluviométrica média na bacia do rio Amazonas é de 2.400 milímetros por ano sendo que, na porção noroeste, na área conhecida como “cabeça de cachorro” - região fronteiriça entre Brasil, Colômbia, Venezuela - não ocorre estiagem e a chuva pode atingir até 3.500 mm/ano. Precipitações elevadas também ocorrem no litoral do Amapá em razão da influência das linhas de instabilidade que se formam ao longo da costa no período da tarde e que são levadas para o continente pelos ventos marinhos.
Esses ventos marinhos introduzem na atmosfera da Amazônia, cerca de 10.000.000.000.000 metros cúbicos de vapor d’água por ano, dos quais mais ou menos 4.000.000.000.000 saem pelos “rios voadores” para abastecer a formação de nuvens e chuvas no Pantanal, no Centro Oeste e no Sudeste. Ficam, portanto, na região, cerca de 6.000.000.000.000 metros cúbicos que são reciclados pela floresta e transformados em 15.400.000.000.000.000 metros cúbicos de chuva. Esse balanço hídrico do clima da Amazônia, só fecha porque os dados e conclusões científicas (eu sei e não eu acho) mostram que a floresta, através do processo de evapotranspiração, reintroduz a água na atmosfera dando origem a novas nuvens formadoras de novas chuvas que se precipitam sobre a floresta, com a mesma água chovendo de duas a três vezes. É difícil definir com precisão o que a destruição das florestas e da biodiversidade provocará no clima amazônico, porém simulações em computadores indicam que haverá chuvas torrenciais, assoreamento dos rios, erosão do solo, e significativas alterações climáticas regionais com consequências de maior ou menor intensidade sobre o resto do Brasil.
Evidentemente a questão é muito mais complexa do que cabe em uma coluna de jornal, mas ele serve como indicador da impossibilidade de entender o clima do Brasil, sem refletir sobre o ciclo da água na bacia amazônica, pois a quantidade de energia solar, o volume de água e a área da bacia têm dimensões inseridas em uma enorme ordem de grandeza.


Por Ozório Fonseca: Esse texto foi publicado na edição deste final de semana do Jornal do Comércio.

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