sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Biodigestor criado em Manaus substitui botijão de gás em comunidades tradicionais

Projeto de construção de 25 exemplares do equipamento inicia em março; comunidades de Novo Airão e Manacapuru utilizarão os equipamentos
Protótipo criado por estudantes da Ufam levou cerca de um ano para ficar pronto. Foto: Johnson Moura/Cedida
 
MANAUS - Um biodigestor que utiliza biomassa proveniente de cascas de frutas amazônicas e dejetos de animais para produção de gás utilizável na cozinha. Essa é a criação do professor do departamento de Engenharia Química da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Johnson Pontes de Moura, desenvolvido em conjunto com seus alunos em Manaus.
De acordo com o professor, as premissas deste projeto são a inclusão social e o desenvolvimento sustentável. "Nós não devemos apenas ficar dependentes da matriz energética da indústria petroquímica e da hidroelétrica, porque nós sabemos que são limitadas. Nós devemos incorporar novas formas de energia", alertou.
"Como forma de aproveitar as biomassas, os caroços de açaí, a casca de banana, cupuaçu e castanha do Amazonas, os alunos aproveitaram o que seria resíduo na natureza e estudaram o potencial calorífico, ou seja, o potencial energético dessas biomassas misturadas com fezes de animais, de galinha e porco, da região ribeirinha de Novo Airão", explicou o professor ao Portal Amazônia
Segundo Moura, com a substituição do botijão de gás liquefeito de petróleo pelo gás produzido pelas biomassas é possível melhorar a economia das famílias ribeirinhas. "Elas utilizam o que iriam jogar fora, geram valor ao que seria inutilizado. Imagine o quanto uma família consegue economizar assim", pontuou.
 
Prêmio
O projeto concorreu no 9° Congresso Internacional de Bioenergia com 344 propostas e conseguiu o primeiro lugar em mérito científico com o 'Destaque Trabalho Técnico 2014'. Trabalhos de países como a Alemanha, Holanda, Colômbia e Argentina, além de universidades de todo o Brasil, concorriam. "Nós, do Estado do Amazonas, mostramos que somos um berço do aproveitamento dos recursos naturais", orgulhou-se o pernambucano. 
O protótipo levou cerca de um ano para ser desenvolvido pelos alunos de Johnson e está instalado no município de Novo Airão (à 180 quilômetros de Manaus). Aprovado e premiado, a partir do dia 2 de março a construção de 25 novos biodigestores na região de Novo Airão e Manacapuru terá início.
Com a visibilidade que ganhou após o prêmio, além de ser interdisciplinar entre nove alunos de engenharia mecânica, química e de alimentos da Ufam e projeto também se tornou interinstitucional, pois contará com a colaboração de dois estudantes da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). A parceria surgiu a partir da solicitação do reitor da UEA, Cleinaldo Costa. "Esse trabalho vai servir não apenas de cunho acadêmico, e sim para as famílias ribeirinhas aprenderem a construir o biodigestor com cursos de capacitação para que não utilizem mais os botijões de gás e economizem", assegurou. Com um tempo de vida útil de até seis anos, o equipamento custa em torno e R$ 600.
O equipamento em si é simples, salientou Moura. Segundo o professor, para ter em casa, é necessário possuir dois tanques, onde um deles servirá de depósito das biomassas e o outro armazenará o gás produzido e que será utilizado. O montante é suficiente para atender uma família de até quatro pessoas durante o tempo de produção. "Você coloca tudo no equipamento e depois de um tempo, entre 28 e 40 dias, você tem a produção do biogás, que substitui o GLT, o gás liquefeito de petróleo", explicou Moura.
O processo de construção e implementação do projeto e dos novos biodigestores em Novo Airão será de um ano, com a possibilidade de ser prorrogado pelo mesmo período. "Meu objetivo não é a questão de ganhar dinheiro, mas mostrar as premissas de incorporação do que se aprende nas universidades para as pessoas mais necessitadas", destacou Johnson Moura. A construção dos biodigestores será no sítio de um dos alunos da Ufam integrantes do projeto, Cláudio Soares do Nascimento. O investimento inicial é de R$ 25 mil.
 
SINTES
O trabalho será apresentado no Seminário Internacional de Tecnologia e Sustentabilidade (Sintes) dia 8 de abril. A palestra será proferida por Johnson Moura, que é coordenador científico do evento. O evento acontece de 7 a 10 de abril com o tema 'As Inovações Tecnológicas no Paradigma da Sustentabilidade e Renovabilidade para se aproximar ao Equilíbrio Perfeito'.
Na programação do seminário, que será realizado na Escola Superior de Tecnologia (EST) da UEA, constam palestras, visitas técnicas, mesa redonda, feiras e exposições, oficinas e minicursos. 
 
 
Clarissa Bacellarclarissa.bacellar@portalamazonia.com
Atualizado em 27/02/2015 08:52:05

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